O objetivo primacial desta comunicação visa, mais uma vez, alertar quem de direito para a necessidade – digo mesmo a urgência – em planear um trabalho sistemático de estudo e recuperação da história local das freguesias que integram o concelho de Cantanhede.

Afirmo de uma forma clara e frontal que a história do, anda assim o podemos classificar, novel Concelho de Cantanhede, ainda tem muito por descobrir.

Em finais de 2014 tendo-me reformado do ensino superior, redirecionei a minha vida para a investigação histórica e o estudo da história local.

Desse lavor, resultaram duas obras:

– Enxofães. Mais de mil anos de história editado em 2018, e

– Murtede. O Concelho que foi, a freguesia que é, editado em 2021.

Trabalhos de que ressaltou, no plano da investigação histórica:

– A confirmação da ocupação deste território no período pré-histórico como é referido por Jorge Alarcão e, nomeadamente, pela Carta Arqueológica do Concelho de Cantanhede;

– O conhecimento da importância da ocupação romana deste território, assente na implantação das villae então criadas, encontrando-se documentalmente comprovadas, na atual área da freguesia de Murtede, as: villa Mirteti Murtede), a villa alpháuára (Alfora), a villa suffenes (Enxofães) e a villam Previtir (Prevedes ou Prebes). Vizinhas destas existiam a villa cepíís (Sepins) e a villa ciluana (Silvã).

– A criação no mesmo território, desde o início do século XII, pelo Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra de uma grande propriedade, a que se seguiu a compra de uma outra propriedade, de grandeza similar, pelo Real Hospital de S. Lázaro de Coimbra.

– A existência do concelho de Murtede, documentada, pelo menos, a partir do período de 1514 a 1521.

– A dependência de Enxofães do concelho de Ançã que para ali nomeava um juiz pedâneo que exerceria a sua função no ainda hoje designado Chão do Conselho.

– A dispersão das parcelas que constituíam estas propriedade por diversos proprietários por força das “Leis da desamortização”.

No que respeita ao vasto património construído cujo estudo arqueológico está por realizar, e cuja classificação, em nosso entender, se torna necessária, assinalamos:

– O Celeiro do Hospital Real de S. Lázaro, reconstruído no século XVIII, mas por certo de origem bem anterior.

– A casa em ruínas localizada na José Carditas com uma inscrição de 1590 – data da realização pelo Real Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, do primeiro tombo documentado, da sua propriedade em Enxofães – e que é o último exemplar existente da Freguesia, do que poderá ter sido uma almuinha ou cortinhal.

– A estalagem de Murtede, cuja existência é referida desde tempos muito recuados por Jorge Alarcão e que se encontra documentada até finais de 1831.

– Os moinhos de vento de que restam 4, com relevo para o moinho do Mouriteco, e os moinhos de água de que restam também quatro com particular relevância para o moinho do Ribeiro ou de Alfora, cuja classificação é não só necessária como urgente.

– O forno da cal do Carvalho, em ruínas, o único de que ainda subsistem restos.

– Por último, há que assinalar o espólio documental e material das Irmandades que aqui existiram, cuja recuperação já foi iniciada como o documentará a exposição que a partir de 30 março irá estar exposta na Biblioteca Municipal de Cantanhede. Trabalho que há que alargar às demais freguesias do Concelho.

Sobre o autor

António Fernando Rodrigues da Costa é licenciado em Química e Mestre em Turismo. Em 1958, apenas com 16 anos, começou a trabalhar na Biblioteca Municipal de Coimbra, onde colaborou com Pinto Loureiro e com Branquinho de Carvalho, investigadores notáveis.  

Depois de ter atingido o posto de Arquivista, passou a exercer as funções de Chefe dos Serviços de Turismo e mais tarde de Diretor do Departamento de Cultura, Desporto e Turismo da Câmara Municipal de Coimbra. 

Posteriormente direcionou a sua atividade para os setores do turismo e da hotelaria, passando a trabalhar na ESTA-Gestão de Hotéis, Ld.ª, que geria hotéis em Portugal e nos PALOP onde ocupou o lugar de Diretor de Operações e, posteriormente, desempenhou o cargo de Diretor de Marketing. 

Iniciou a docência no Ensino Superior, em outubro de 1989, regendo a disciplina de “Marketing” na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril. Dali transitou para a Universidade Internacional e, posteriormente, para a Universidade Lusófona, onde regeu a disciplina de “Técnicas de Gestão Hoteleira”. 

Foi consultor da Organização Mundial de Turismo, com diversas missões realizadas em Angola e Moçambique, e exerceu, ainda, para empresas privadas, funções de consultoria no âmbito do planeamento turístico, quer em Portugal, quer em Angola, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Cabo Verde. 

Foi deputado na Assembleia da República e na vereação da Câmara Municipal de Coimbra, sem esquecer, bem pelo contrário, a atuação relevante levada a cabo no campo do sindicalismo. 

Participou em numerosos congressos, publicou um sem número de artigos e diversos livros. Nomeadamente, é autor das obras Enxofães. Mais de mil anos de História (2018) e Murtede. A Freguesia que é, o concelho que foi (2021).