Marialva, mestre picador da escola barroca de equitação portuguesa do fim do séc.XVIII, influenciou a equitação clássica na Europa, mas também no Japão.
Professor do picador erudito Manuel Carlos de Andrade, que compôs um magnífico tratado de equitação por volta de 1790, intitulado Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria, o Marquês de Marialva oferece uma visão estética da arte de dançar com os cavalos única no mundo. Ele ensina uma equitação, ao mesmo tempo clássica e inovadora, antevendo o futuro desta arte na Europa.
Domina as orientações da escola antiga, ao mesmo tempo que antevê as questões da equitação superior oitocentista. A clássica deve racionalizar-se e acolher os contributos da biologia e das demais ciências, preservando no entanto a autenticidade mística da arte equestre portuguesa. É esta Trinitária, no sentido em que é uma arte dita do corpo, do espírito e da alma.
É uma equitação erudita e brilhante. Esta escola influenciou a dos mestres samurais japoneses! Esta influência é, porém, mal conhecida no Ocidente e, paradoxalmente, também em Portugal.
Uma estampa japonesa pintada em finais do séc.XIX mostra várias figuras equestres da Escola de Marialva do Tratado de Manuel Carlos de Andrade reproduzidas por um pintor japonês, mostrando samurais a adoptarem o ensino do mestre português. Adivinhamos, pois, quanto o espírito da cavalaria lusitana intrigou a casta nobre dos mestres de Yabusame, prática equestre que aparece ao lado da arte de vestir os cavalos portugueses, maravilhosamente apresentada por este artista anónimo.
Notemos também que o jesuíta português Luís Fróis é o primeiro europeu a descrever a arte da cavalaria japonesa por volta de 1580. Mais tarde, o grande mestre Nuno Oliveira, picador de finais do século XIX, promoverá a escola de Marialva nos quatro cantos do mundo. Pela primeira vez, um mestre português torna-se mundialmente conhecido através de várias traduções europeias e orientais (chinesas).
Em 1978, a escola portuguesa de arte equestre de Lisboa integra novamente o ensino de Marialva com os célebres cavalos de Alter. Fora, aliás, o Marquês de Marialva que escolhera os modelos equinos para a realização da estátua equestre da Praça do Comércio em Lisboa, tendo adoptado o cavalo Alter Gentil o modelo de excelência. A arte equestre barroca portuguesa volta a encantar a Europa. Em 2002, o Marquês de Marialva entra na Sorbonne e o seu ensino será oficialmente reconhecido pela Federação Francesa de Equitação, através de um diploma de arte equestre portuguesa! Em 2024, a arte de Marialva deverá entrar no Património Imaterial da Humanidade, da UNESCO: a equitação portuguesa será reconhecida como Património Mundial!