Perante a ameaça da infeção pelo novo coronavírus, é fundamental fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos mantermos saudáveis. A Professora Doutora Ana Paula Fernandes, docente da Universidade Aberta, refere neste artigo medidas práticas gerais (como boa nutrição, atividade física e sono) que contribuem para reforçar as defesas naturais do organismo. Apresenta, também, um conjunto de perguntas e respostas sobre segurança alimentar, úteis no contexto da pandemia COVID-19
Consulte o artigo COVID-19 e Estilos de Vida Saudável no Repositório Aberto: http://hdl.handle.net/10400.2/9591
BREVE ENQUADRAMENTO
Perante a ameaça da infeção pelo novo coronavírus, é fundamental fazer tudo o que está ao nosso alcance para nos mantermos saudáveis. Para o efeito, importa primeiramente seguir todas as recomendações da DGS relativas à prevenção da sua transmissão (distanciamento social, cumprimento da etiqueta respiratória e reforço das medidas de higiene).
Importa também não negligenciar a relevância do estilo de vida saudável, que é particularmente importante entre os que já sofrem de doenças crónicas (diabetes, doença cardiovascular) ou para os que apresentam fatores de risco relevantes (como por exemplo, a hipertensão, colesterol elevado, excesso de peso ou idade avançada), bem como para todos os que querem preservar as suas defesas naturais (imunidade) e o seu bem-estar físico e psicológico.
As medidas práticas gerais que a seguir se referem são exploradas na perspetiva da sua relação com as defesas naturais embora, como referido anteriormente, constituam os alicerces da prevenção das doenças crónicas que tanto debilitam a população dos países desenvolvidos.
BOA NUTRIÇÃO
Imagem adaptada de Rodrigues et al, 2006
Elemento incontornável na prevenção e controlo das doenças crónicas, a alimentação não é dissociável do bom funcionamento do sistema imunitário (defesas naturais). Isso deve-se ao facto de este sistema necessitar de energia e de um vasto conjunto de nutrientes para funcionar adequadamente, tais como de proteína, ácidos gordos ómega 3, cobre, folato, ferro, selênio, vitamina A, B6, B12, C, D, E e zinco.Está bem estabelecida a relação entre a má nutrição (desnutrição calórico-proteica e a obesidade) e a diminuição da função imunológica, o mesmo acontecendo na presença de deficiências em um ou mais micronutrientes essenciais. Para que tal não aconteça, é fundamental cumprir as orientações do guia alimentar nacional – A Roda dos Alimentos. Importa também enaltecer a importância de limitar o consumo de álcool, bem como reduzir o consumo de produtos alimentares muito processados industrialmente, devido ao seu alto teor de sal e açúcar e pobreza em fibra alimentar.
ATIVIDADE FÍSICA
Imagem: Programa Nacional para Promoção da Atividade Física. Direção Geral de Saúde (s/d)
A atividade física de intensidade moderada é outro elemento insubstituível na manutenção da saúde e prevenção da doença. Esta é, também, cada vez mais vista como um importante adjuvante do bom funcionamento do sistema imunológico. Vários ensaios clínicos randomizados apoiam a relação inversa entre treino de intensidade moderada e incidência de infeções do trato respiratório superior. Outros estudos epidemiológicos também sugerem que a atividade física regular está associada à diminuição da mortalidade e das taxas de incidência para a influenza e para a pneumonia. A Direção Geral de Saúde recomenda à população adulta acumular, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade física aeróbica de intensidade moderada (ex.: marcha rápida) ou vigorosa (ex.: corrida).
SONO
Muitas pessoas ainda desconhecem o importante papel que o sono desempenha na saúde. Embora dormir mais não nos impeça necessariamente de ficar doentes, poupar no sono pode, no entanto, afetar adversamente a saúde e o sistema imunológico. Sem sono suficiente, o corpo produz menos citocinas, um tipo de proteínas que tem como alvo as infeções e inflamações, a fim de ativar, mediar ou regular a resposta imune total. O défice crónico de sono também torna menos eficaz a vacina contra a gripe, reduzindo a capacidade de resposta do organismo. Para nos mantermos saudáveis é recomendado aos adultos dormir sete a oito horas por noite. Esse hábito ajudará a manter o sistema imunológico em boa forma, bem como nos protegerá de outros problemas de saúde, onde se incluem as doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade.
Ana Paula Vaz Fernandes
Referências de apoio
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Katona, P., & Katona‐Apte, J. (2008). The Interaction between Nutrition and Infection. Clinical Infectious Diseases, 46(10), 1582–1588. https://doi.org/10.1086/587658
Nieman, D. C., & Wentz, L. M. (2019). The compelling link between physical activity and the body’s defense system. Journal of Sport and Health Science, 8(3), 201–217. https://doi.org/10.1016/j.jshs.2018.09.009
Rodrigues, S. S. P., Franchini, B., Graça, P., & de Almeida, M. D. V. (2006). A New Food Guide for the Portuguese Population: Development and Technical Considerations. Journal of Nutrition Education and Behavior, 38(3), 189–195. . https://doi.org/10.1016/j.jneb.2006.01.011
Sleep Foudation. Disponível no endereço url: https://www.sleepfoundation.org/. Acedido em abril de 2020
WHO, World Health Organization. 2006. Cinco Chaves para uma Alimentação mais Segura: manual. Disponível no endreço url: https://www.who.int/foodsafety/consumer/5KeysManual_pt.pdf.
WHO, World Health Organization. 2020. Coronavirus disease (COVID-19) advice for the public. Disponível no endereço url: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public. Acedido em abril de 2020.
WHO, World Health Organization. 2020. Coronavirus disease (COVID-19) advice for the public: When and how to use masks. Disponível no endereço url: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/advice-for-public/when-and-how-to-use-masks. Acedido em abril de 2020.
PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE SEGURANÇA ALIMENTAR
Pode o novo coronavírus ser transmissível através dos alimentos?
A possibilidade de contaminação através da comida tem suscitado diversas dúvidas. Tomando em consideração todos os estudos científicos levados a cabo até ao momento, a posição da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica Nacional) é que não existe evidência de qualquer tipo de contaminação através da ingestão dos alimentos. Esta posição é a mesma que defende a EFSA (Autoridade de Segurança Alimentar Europeia) e a OMS (Organização Mundial de Saúde), entre outras agências internacionais de referência.
Continua a ser seguro consumir carne?
Sim, desde que respeitadas as regras habituais de higiene e segurança alimentar (ver mais adiante imagem sob o título “Cinco chaves para uma alimentação segura” com orientações práticas). A carne e os produtos derivados da carne, assim como os restantes alimentos de origem animal, podem ser consumidos de forma segura, desde que tenham sido bem cozinhados e adequadamente manuseados. Deve-se, por isso, não consumir quaisquer tipo de alimentos de origem animal crus ou mal cozinhados.
E para os vegetais, como a fruta e as saladas, são necessárias precauções especiais?
Alguns especialistas consideram que a fruta e os legumes devem, preferencialmente, ser consumidos cozidos, sendo aconselhado a desinfeção se se optar pelo consumo cru, contudo essa não é a opinião das principais autoridades de saúde pública. A ASAE, em linha com a OMS e a EFSA, defendem que se pode comer qualquer vegetal cru, sem necessidade de remoção da casca ou desinfeção prévia, e que basta lavá-los bem em água corrente antes de os consumir (ver mais adiante a imagem sob o título “Cinco chaves para uma alimentação segura” com orientações práticas).
Deve-se evitar o consumo de alimentos provenientes de outros países afetados pela COVID-19?
Não há motivo para se preocupar com esta questão, pois não existe evidência científica que fundamente a relação entre a transmissão do novo coronavírus e os alimentos importados de outros países afetados pela COVID-19.
Que medidas úteis devo tomar na ida ao supermercado?
- Máscara
O uso de máscara está aconselhado aos grupos de riscos (pessoas idosas ou com doença crónica) ou para quem apresente sintomas. Com ou sem máscara é importante (para o seu bem e dos outros) que não se esqueça de manter sempre uma distância de segurança das restantes pessoas.
- Luvas
A OMS considera que a lavagem regular das mãos proporciona uma proteção superior ao uso de luvas. Importa, por isso, que lave bem as suas mãos antes de iniciar as compras e, ao longo destas, as vá higienizando frequentemente usando para isso um gel desinfectante (ou álcool). Limite ao máximo tocar desnecessariamente em quaisquer superfícies e nunca toque com as mãos no rosto.
- Pagamento
Ao terminar as compras, evite pagar com dinheiro e use o cartão Multibanco. Se o seu cartão tiver o sistema contactless, use essa funcionalidade para pagar. Se teve de usar as teclas do terminal Multibanco, de seguida, lave ou desinfete as mãos.
- Não compre em excesso
Se por um lado é uma boa medida reforçar a despensa com alimentos que não se estragam rapidamente, o mesmo já não é verdade para a sua acumulação excessiva em casa. O excesso de zelo e o pânico fazem com se comprem alimentos e outros produtos que acabam por ser inúteis e que contribuem para agravar o fenómeno do desperdício alimentar. Já o recomendado reforço da despensa (constituída por cereais, leguminosas, leite, conservas e produtos congelados) serve para acautelar qualquer ocorrência que nos impeça de ir às compras e para reduzir o número de pessoas que diariamente vão ao supermercado, que nesta fase tem menos pessoal a laborar para nos atender. Nunca é demais, por isso, reforçar a importância do bom-senso e do civismo na hora de comprar pois, de outra maneira, será extremamente difícil para os supermercados assegurar que as prateleiras não ficam vazias e que não haverá pessoas que ficam privadas de bens essenciais.
Há vantagem em reforçar as boas práticas de higiene alimentar em casa?
Sim. Tendo em conta o princípio da precaução, o reforço das medidas de higiene associadas ao consumo de alimentos é altamente aconselhado. Para o efeito é importante estar particularmente atento às medidas defendidas pela OMS, explicadas mais adiante, na imagem sob o título “Cinco chaves para uma alimentação segura”.
CINCO CHAVES PARA A ALIMENTAÇÃO SEGURA