Coordenação: José Eduardo Franco; Vice-coordenação: José das Candeias Sales
Apresentação
A corrente da “história global” como ideário historiográfico propõe que a construção do conhecimento sobre o passado seja realizada à luz de uma chave de leitura global, procurando ultrapassar a lógica circular tendencialmente fechada ou autorreferencial das histórias nacionais. Trata-se de situar a compreensão dos temas e problemas que são objeto da pesquisa e da interpretação historiográfica no quadro poroso das dinâmicas globais, que conferem maior complexidade à análise dos processos e dos resultados, e de ter em conta a noção de rede. Neste sentido, a história global não se limita à história da globalização, dos seus processos e efeitos.
O desenvolvimento de projetos de pesquisa a partir deste grande ângulo, tendo como ponto de observação crítica os movimentos históricos na longa duração, articulando-se com a análise dos seus efeitos na média e curta duração num dado território de expressão, permite-nos compreender os objetos de estudo históricos nos seus vários géneros, com originalidades híbridas e compósitas, em que o local recebe do global e o global também se enriquece com o local. A história, no fundo, passa a ser compreendida de modo “glocal”, em que os territórios e os tempos históricos são estudados na sua ligação intrínseca à “máquina” circulante do mundo. Mesmo em tempos de maior isolamento, houve fronteiras porosas que garantiram alguma circulação e um certo arejamento, mesmo que o resultado tivesse sido o exercício de negação do global para enfatizar defensivamente a perspetiva umbilical autorreferenciada do que se passava localmente.
O trabalho da história global constrói-se na base epistemológica intrinsecamente interdisciplinar, interepocal, interespacial e inter-relacional. A velha arrumação por épocas, correntes e géneros só pode ser considerada como expediente instrumental para efeitos de facilitação do trabalho, mas essas fronteiras devem depois ser quebradas pela transversalidade das análises, que podem tornar-se, se os dados empíricos o permitirem, transepocais e transtemáticas.
Importa salvaguardar que, como sublinha o Manuel d’histoire globale da autoria de Hervé Inglebert, “é errado, todavia, limitar a história global a uma história ‘totalizante’. Pelo contrário, a sua riqueza e a sua especificidade residem principalmente na vontade de promover análises em diversos níveis, de mudar perspetivas, de combinar diferentes escalas, desde as grandes às mais pequenas.”
A história global não se apresenta com um escopo totalizante, mas possibilitante. À luz deste ideário, o nosso Grupo de Investigação tem como propósito fundamental abrir caminhos novos para explorar uma imensidade de análises que permitirão complexificar o conhecimento histórico construído criticamente.
Objectivos
- Repensar o conhecimento histórico em contexto global.
- Construir o conhecimento sobre o passado à luz de uma chave de leitura global.
- Promover a reflexão de temas e problemas típicos da história global.
- Desenvolver projetos de pesquisa e edição inscritos no horizonte epistemológico da história global.
- Dinamizar equipas de pesquisa em história global.
- Organizar eventos científicos sobre assuntos de história global.
- Estabelecer intercâmbios com redes de pesquisa em história global.
Projetos e iniciativas
Projeto “Histórias globais portuguesas” (investigação e edição):
- História global de Portugal
- História global da literatura portuguesa
- História global da alimentação em Portugal
- História global da educação em Portugal
- História global do pensamento político em Portugal
- História global da arte em Portugal
- História global da espiritualidade e da mística em Portugal
- História global da missionação portuguesa
- História global da filosofia em Portugal, etc.
Projeto “Portugal em jogo de espelhos – Coleção global”:
- Portugal segundo a Europa
- Portugal segundo os países e nações lusófonas
- Portugal segundo o mundo
- Portugal segundo Portugal
- A Europa segundo Portugal
Projeto “Globalização no mundo antigo”:
- Dinâmicas e processos de globalização no mundo antigo
- História e memória global: receção e representações da Antiguidade
- Egiptologia vs. Egiptomania – a construção do conhecimento global sobre o Egipto antigo
Projeto “Vieira Global” (obra completa, obra seleta em 20 línguas, dicionário).
Projeto “Pombal Global” (obra completa, livros de estudos, dicionário).
Projeto “Humanitas Selecta” (obra completa de Fernando Oliveira e de Damião de Góis).
Projeto Dicionário de Estudos Globais.
Projeto Dicionário Global das Heresias.
Iniciativas: congressos, colóquios e seminários.